Em 1956 Mingus gravou o disco Pithecanthropus Erectus, amplamente reconhecido como uma obra-prima, que estabeleceu definitivamente seu nome como um dos líderes do jazz moderno. Nos dez anos seguintes, ele comporia temas antológicos e gravaria discos idem, tocando com Eric Dolphy, Jackie McLean, J. R. Monterose, Jimmy Knepper, Roland Kirk, Booker Ervin e John Handy, entre outros. Durante a década de 60, porém, problemas psicológicos e dificuldades financeiras fizeram a carreira de Mingus entrar em parafuso (não sem antes gravar mais uma de suas obras-primas, The Black Saint and The Sinner Lady, e também um disco solo como pianista, Mingus Plays Piano). Alguns aspectos dessa fase estão documentados no documentário Mingus, de Thomas Reichman (1968).
As coisas só iriam melhorar, na vida profissional e pessoal, a partir de 1971, com o recebimento de uma bolsa de composição da fundação Guggenheim, a venda das matrizes do selo Debut (que fora fundado por Mingus e Max Roach) para a Fantasy, e a publicação da surpreendente autobiografia Beneath the Underdog (algo como “Mais por baixo que vira-lata”). A partir daí, começou a haver um reconhecimento maior por parte do público; porém há quem diga que o fogo criador havia sido um tanto atenuado. Em 1977 foi diagnosticada em Mingus uma esclerose lateral amiotrófica. Em 1978, realizou-se um concerto em sua homenagem na Casa Branca, ao qual Mingus compareceu já numa cadeira de rodas. O fim viria em 5 de janeiro de 1979, depois de uma série desesperada de tentativas de cura usando diversos tipos de medicina não-convencional. Depois de sua morte, seu prestígio cresceu ainda mais, e os grupos Mingus Dinasty e Mingus Big Band levaram seu legado adiante.
Mingus possuía uma personalidade complexa, contraditória e até mesmo agressiva - não são poucas as histórias que se contam de Mingus tendo agredido outros músicos. Tendo experimentado diversas interrupções na produção musical por conta de sua instabilidade emocional, recuperava-se a seguir para continuar tocando magistralmente. Sentia com intensidade o drama do preconceito racial, usando diversas vezes a música como veículo de protesto (por exemplo, na composição “Fables of Faubus”, endereçada a um governador do estado de Arkansas).
Nos anos 50 e 60, Mingus abriu novos caminhos para o jazz e para o contrabaixo em particular. Seu toque ao contrabaixo é nervoso, veloz e irregular, e seus solos são longos e intensos. Ele fez com o contrabaixo o que Max Roach e Art Blakey fizeram com a bateria: emancipou o instrumento, trouxe-o para o primeiro plano, conferiu-lhe um discurso próprio. As composições de Mingus, às vezes estruturadas de modo consideravelmente complexo, revelam um pensamento musical sofisticado. O conjunto de Mingus, em todas as suas diferentes formações, se caracterizava por uma intensa improvisação coletiva e por uma grande liberdade harmônica. Em certo sentido, ele pode ser considerado um precursor do free jazz. No entanto, é bom lembrar que Mingus nunca deixou de cultivar, mesmo em peças mais profundamente radicais, as raízes do jazz. Ora vanguardista, ora tradicionalista, ora lírico, ora feroz, porém sempre inovador e profundamente musical, Mingus criou, ao longo de seus 56 anos, uma obra profunda, que tem servido de inspiração para gerações de músicos.Visite: www.mingusmingusmingus.com/
Fonte: Ejazz. (V.A. Bezerra, 2001)
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